Habituei-me a renascer.
Vira e mexe renasço.
Nos últimos anos renasci tanto,
tanto que me estranha meu eu anterior.
Renasci para as baratas quando perdi o medo delas.
Renasci para as nuvens furando-as num salto de para-quedas.
Renasci para a vida quando a morte levou gente querida.
Renasci para a luta organizada a cada cassetada, a cada novo camarada.
Renasci para o sexo a cada trepada, chupada, a cada carícia roubada.
Para alguns amigos renasci, para outros morri.
Renasci para o amor a cada vez que sofri uma dor,
a cada beijo e o coração em disparada.
Renasci para o aqui a cada viagem trilhada.
E ainda há tanto a renascer, tanta estrada!
Sempre renascido em mim mesmo, tornei-me outros.
Já desta última vez, renasci em outrem.
Na bebê nascida do ventre de minha amada.
E nela terei que aprender tudo o que pensava que sabia.
Minha filha recém-nascida me fez recém-renascido.
Caio Dezorzi
2013, logo após o Equinócio de Primavera.