tag:blogger.com,1999:blog-52687052787478053722024-03-20T05:16:56.320-03:00Fundo da Gaveta - blog do Caio DezorziPoesia, contos, escritos que estavam no fundo da gaveta.Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comBlogger39125tag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-86836946056144424742021-10-25T15:12:00.003-03:002021-10-25T15:44:34.023-03:00Antehoje amanheci com essa dúvida<p>Se hoje é o depois-de-amanhã de anteontem<br />Sendo também o anteontem de depois-de-amanhã<br />Poderia antehoje ser o anteamanhã de depois-de-anteontem?<br /></p><p><i><br /></i></p><p><i>Caio Dezorzi, um dia antes do dia seguinte a 21 de outubro de 2021</i></p>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-46427693349530600882021-03-21T23:35:00.003-03:002021-03-21T23:40:13.176-03:00Capitão Messias<p><span style="font-family: courier;"><b>G</b>anhou a eleição<br /><b>E</b>levou-se a presidente<br /><b>N</b>aturalizou o ódio<br /><b>O</b>deia à toda gente<br /><b>C</b>airá pela luta<br /><b>I</b>nexoravelmente<br /><b>D</b>a sua queda faremos<br /><b>A</b>manhecer novamente</span></p><p><i>Caio Dezorzi<br />Brasil, 2021, quase 300 mil mortos</i></p>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-49044069687129548272021-01-04T02:05:00.004-03:002021-01-04T02:06:25.290-03:00Senil idade<p>Se a cabeça<br />pega pressa,<br />prega peças.</p><p><i>Caio Dezorzi, 3º dia de 2021</i></p>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-41426809989463079832019-04-24T15:18:00.003-03:002019-04-24T16:36:17.535-03:00Fim de SemanaFinda a semana<br />
Fim de semana<br />
Chegam os dias findos<br />
<br />
Morte e renascimento<br />
Parto pós-passamento<br />
Prenho está o domingo<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Livremente inspirado no poema "Segunda-feira" de Alice Fromer.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-15804096141897772622018-08-28T11:57:00.000-03:002019-05-07T16:00:13.763-03:00Cizânia em prosaDesabou as nádegas nas tábuas do banco como pássaro abatido em voo despenca do céu. Seu corpo despido, extenuado de verter-se em lágrimas, encharcado de um suor gélido, coalhava o ar da cozinha inteira. O ar pesado se derramava por cima de tudo. Não sentia mais temperatura alguma, mas um frio íntimo percorria toda a sua ossatura, como que anunciando a cada vértebra, a cada falange o que estava por vir. Arrastou para si o facão, a machadinha e a garrafa. Espalhou metade do seu corpo sobre o rosto pálido da mesa. Abriu a garrafa e virou um tanto, boca adentro, como se fosse água. Era rum. Com o restante, temperou a porção de corpo exposta. Deixou ali, por uns momentos, o álcool marinando a pele, enquanto cada pensamento seu se fragmentava num labirinto temporal sem saída.<br />
<br />
Uma longa cicatriz percorre toda a sua pele, dos pés à cabeça, demarcando fronteira entre dois corpos que vivem num. Dois corpos que foram costurados anos antes. Com a mão direita, empunha a lâmina e faz a primeira incisão sobre a marca dos antigos pontos, feito bisturi de cirurgião. Começa pelo peito. Da sua garganta jorra um retumbo cavo e profundo, ecoando mil grunhidos que suplicam e maldizem em línguas dravídicas mortas. É um grito dos abissos da alma contra a maior dor que já foi inventada - o preço que se paga por separar o que havia sido misturado pela alquimia dos atos de amor insano.<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Segunda metade de 2018</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-24112619853573999802018-07-31T22:52:00.005-03:002021-10-25T15:22:08.519-03:00Te amar é ter o peito aberto a fórceps<div>
Te amar é ter o peito aberto a fórceps</div>
<div>Os ossos serrados e o coração exposto</div>
<div>Pulsando em suas mãos que o apertam<br />Sem qualquer acompanhamento médico</div>
<div>
Sem qualquer acompanhamento</div>
<div>
Sem qualquer...</div>
<div>
<br /></div>
<div>
E então ter o coração açoitado</div>
<div>
Por carrascos robustos cansados de tanto vergastá-lo</div>
<div>
Avassalado ao castigo de todos os flagelados da história</div>
<div>
Sem qualquer meio de fuga<br />
Sem qualquer meio<br />
Sem qualquer...<br /><br />
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: "Times New Roman"; font-size: medium; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<div style="margin: 0px;">
E em seguida ter o coração empurrado via crucis abaixo</div>
</div>
Hostilizado e apedrejado por uma interminável multidão<br />
Mas reconfortado pelo olhar da mulher que o ama<br />
Apesar de tudo o que o mata aos poucos</div>
<div>
Apesar de tudo o que o mata</div>
<div>
Apesar de tudo.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<i>Caio Dezorzi, Julho de 2018</i></div>
Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-43890075823190162582017-10-27T10:17:00.001-02:002019-12-20T16:09:10.527-03:00Amor além do alcanceVoa livre<br />
Que a tua liberdade é meu prazer<br />
Experimenta-te<br />
Entrega-te<br />
Perde-te<br />
Transforma-te<br />
Reencontra-te<br />
Mas depois, reencontra-me também.<br />
Não por dever. Não deves nada!<br />
Só para que eu não morra dentro de ti.<br />
Mate-me, se quiseres.<br />
Talvez seja necessário.<br />
Mas, imploro-te, ressuscita-me em ti renovada<br />
Ensina-me essa nova versão de ti<br />
Então torna-me o teu mais novo vôo<br />
E nunca deixa de voar<br />
Que a tua liberdade leva o meu amor para além do meu alcance<br />
Amo-te em outros braços<br />
através de outros braços<br />
em todos os braços<br />
Que o teu prazer é também minha liberdade<br />
E reinvento-me para ti...<br />
<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Dois mil e dezessete.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-29753313991142990672016-03-25T09:09:00.000-03:002016-03-25T09:12:00.739-03:00Licença PaternidadeQuem vê pensa que eu faço samba e amor até mais tarde<br />
E por isso tenho muito sono de manhã<br />
Mas mesmo com Licença Paternidade<br />
Vou deixando tudo pra amanhã<br />
<br />
De madrugada tem gente que só mama<br />
E outros que só querem acordar<br />
O choro que contorna a nossa cama, inflama<br />
O nosso adiado descansar<br />
<br />
Junto com a minha companheira<br />
Que tenta ainda manter a mente sã<br />
Troco fraldas e preparo mamadeiras<br />
E tenho muito sono de manhã<br />
<br />
Cuido dos bebês até mais tarde<br />
Vou ninando com poemas e canções<br />
Quem já tentou sabe que é uma arte, à parte<br />
Mais difícil que fazer revoluções<br />
<br />
Não sei se pelo sono ou por cansaço<br />
Fiz de fralda o meu cobertor de lã<br />
Às seis eu já não sei mais o que faço<br />
E deliro com um café da manhã<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Numa dessas madrugadas logo depois do nascimento da Poema, irmã mais nova da Nina.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-28200345922431373192014-01-25T19:09:00.003-02:002014-01-25T19:13:31.978-02:00Parabéns São Paulo<div style="text-align: justify;">
Nasci aqui, na selva de pedra, concreto, aço, vidro, plástico... que engole tudo e a todos. Minha mãe nasceu aqui. Meus irmãos nasceram aqui. Minha filha nasceu aqui. Muita coisa boa nasceu nesta cidade. Se vocês conhecessem minha mãe, meus irmãos e minha filha, concordariam comigo. Há muita coisa boa na cidade. A poesia pintada nos muros, dita nas ruas. A música, o teatro, a boemia que ainda resta, a melhor pizza do mundo. Muita coisa boa também veio pra cidade. Meu pai veio pra cá com menos de um ano de idade, mas numa época em que ainda podia-se pescar e nadar no Rio Tietê e em todos os córregos que cortam o solo da atual zona mais populosa do hemisfério sul. Meu pai, prestes a completar 65 anos de idade, conta histórias de quando nadava num rio com seus amigos onde hoje é a Avenida Salim Farah Maluf. Não se vê mais o rio. Está submerso no asfalto. Só se vê a "Salim Maluf" - nome de outro pai, pai de outro Maluf, o Paulo. Xará do santo que emprestou o nome à cidade. Muita coisa ruim nasceu nesta santa cidade também. E é maluf demais pra uma cidade só!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<a name='more'></a>O Paulo, que mandou cimentar o rio e colocar o nome do pai dele, já foi governador do estado indicado pelos militares na época da ditadura, e prefeito da cidade. Hoje é deputado. Ele mandou bater em professor numa época em que ainda não era moda. Colocou a Rrrrrrota na rrrrrrrrua. E mandou fazer um incinerador para desaparecer com os mortos da ditadura. A empresa contratada se recusou a fazer tal engenhoca infernal e Maluf mandou jogar tudo numa vala comum, num cemitério de Perus. Apesar de tudo, parece que ainda tem muito paulistano que gosta dele. Dizem que "rouba, mas faz". E rouba mesmo! Muito! Fazer não faz, mas manda fazer. Quem faz mesmo são outros Paulos, Pedros, Joões, Zés e Marias. Os nomes que nunca aparecem naquelas placas de metal que colocam depois que a obra fica pronta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Disseram que vinha aí um homem novo para um tempo novo. Faz aniversário hoje também – nasceu no dia da cidade! Acabou eleito prefeito. E como vinha do partido que é “dos trabalhadores”, todo mundo que é trabalhador e tem um pouco de consciência de classe, como eu, votou nele. Era isso ou deixar um maluf desses com outro nome qualquer entrar no lugar. Mas o “homem novo” foi abraçar o velho Maluf original, lá no jardim da mansão dele (que, diga-se de passagem, a Interpol não sabe onde fica)! Tá tudo errado mesmo! Homem novo, política velha e São Paulo não pode parar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A turma dos revolucionários, que com orgulho ajudei a formar e faço parte, me colocou de candidato a vereador nas últimas eleições. Nunca esperei por isso. Não cogitava. Mas, missão dada é missão cumprida! Tudo pela revolução! Campanha bonita, porque falava dos problemas reais do povo e, mais do que isso, apontava soluções que nenhuma outra campanha de nenhum candidato a vereador ou mesmo prefeito colocava. Por exemplo, falávamos de Tarifa Zero quando ainda não era moda. Coisa de marxista mesmo!</div>
<div style="text-align: justify;">
Mesmo com quase nada de grana, disputando contra campanhas milionárias de candidatos patrocinados por grandes empresários, recebemos votos de mais de três mil concidadãos e concidadãs. É bastante, mas insuficiente para eleger um vereador numa cidade dessa gigantude e dinheirama toda. Três mil e dez votos, para ser mais exato. Três mil e dez pessoas que nem conheço, ou pelo menos a maior parte. Cidade gigante é assim: conhece-se muita gente e não se conhece ninguém. Pra encontrar um amigo tem que ser com hora marcada, agendada com um mês de antecedência. Tudo é urgente!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aí, Haddad, o homem novo, mancomunado com o velho Maluf, de mãos dadas com um maluf tucano que se chama Alckmin, fez cumprir o orçamento do ex-prefeito Kassab – com esses nomes todos, quem não conhece deve pensar que em São Paulo só tem descendente de árabe e turco! – e, insensível à urgência da cidade, mas muito sensibilizado com a necessidade das milionárias empresas privadas de ônibus, decretou um aumento de vinte centavos na tarifa dos coletivos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E então, aqueles que por muito tempo aceitaram professor espancado, rio asfaltado, cadáver desaparecido, bala perdida encontrada na nuca de menino da periferia e “otras cositas más” decidiram dizer basta e não aceitaram mais vinte centavos. A polícia cumpriu seu dever de defensora da ordem e da propriedade privada, e baixou o cacete com o aval de Haddad, Maluf, Alckmin, Kassab, Rousseff e outros nomes impronunciáveis. Isso incendiou a cidade e incendiou o Brasil. E então entramos em um novo período histórico. Ironicamente, o dito “homem novo para um tempo novo”, que fez de tudo para impedir o tempo novo, provocou sua inauguração com uma velha política, e abraçando os velhos políticos. Palmas para Haddad! Clap, clap, clap!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Agora vivemos um tempo novo. Um novo povo não aceitará mais vinte centavos, balas perdidas, professores apanhando. Também não aceitará mais gás lacrimogênio, bala de borracha, spray de pimenta, canhões d’água! Não! Basta! E como dizia uma outrora boa banda paulistana: “Polícia para quem precisa! Polícia para quem precisa de polícia!” Nós não precisamos! Estamos fartos dela!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se é o meio material que determina a consciência, queiramos ou não, todos que vivemos aqui somos em certa medida, filhos de São Paulo. Com todas as suas coisas boas e ruins. Parabéns São Paulo! Mas saiba que teus filhos não fogem à luta. E venceremos!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>25 de Janeiro de 2014, por ocasião do 460º aniversário da cidade de São Paulo.</i></div>
Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-5984764819208084382013-12-28T14:33:00.000-02:002013-12-28T14:35:13.541-02:00Quando você tiver filhos, vai entender!<div style="text-align: justify;">
Um bebê de três meses te faz perder a hora. Oras, nenhum compromisso é mais urgente do que ficar olhando para um bebê de três meses, quando acorda, se espreguiça, sorri, balbucia um ruído qualquer. Principalmente se for sua cria. Aí não há como chegar no horário. Não há como chegar em lugar nenhum. Não há como chegar, porque já se está no objetivo final. Ali, no alto do lugar de onde qualquer um diz: “Agora posso morrer feliz!”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um bebê de três meses te faz perder o senso estético. Sim, porque de repente, você começa a ver beleza em baba, ranho, xixi, cocô... qualquer meleca que saia do seu bebê é linda! O cheiro da fralda carregada soa como perfume para o seu olfato. Babada na testa, mijada no colo, jato de cocô direto na sua boca... nada te incomoda! E a mais bela pintura de Van Gogh, fotografia de Sebastião Salgado ou película do Fellini fica sem graça, feia, se para apreciá-la você teve que deixar seu bebê com alguém munido de uma mamadeira. O mundo fica feio longe do seu bebê de três meses.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<a name='more'></a><div style="text-align: justify;">
O mais prazeroso ofício, a carreira mais exitosa, o trabalho que dá sentido à sua vida perde o brilho quando você tem que deixar seu bebê de três meses. Licença maternidade e paternidade de três anos! Essa é a reivindicação que vêm à cabeça quando se tem um bebê de três meses.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A final do seu time do peito? O último capítulo da novela? A estreia da sequencia do seu filme favorito? O show da banda que você mais gosta? A nova temporada do seu seriado predileto? Aquela peça de teatro que você esperou dois anos para ver, agora em cartaz? Uma oportunidade de emprego melhor? O concurso para o emprego da sua vida? Curso grátis com todos os saltos inclusos para a prática de vôos com <i>wingsuit</i>? Viagem ao redor do mundo com tudo pago? A mulher mais gostosa do mundo te dando mole? A mulher mais gostosa do mundo te chamando para um <i>ménaje à trois</i> com uma amiga muito gostosa? Pizza de mussarela de búfala, catupiry, provolone e parmesão com bastante molho de tomate, coberta com alho frito e azeite português extra virgem, com azeitonas chilenas, feita por um pizzaiolo de uma daquelas pizzarias tradicionais da Mooca? Não! Nada é páreo para o seu bebê de três meses.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O sorriso de um bebê de três meses te faz perder o rumo, as estribeiras, a identidade. Te faz perder-se de si mesmo. Sim, basta um sorriso do seu bebê de três meses, olhando nos teus olhos. Ah... do que eu estava falando mesmo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O choro de um bebê de três meses te faz perder o rumo, as estribeiras, a identidade. Te faz perder-se de si mesmo. Te faz perder a fome, o sono, a hora, o senso estético, tudo. Nada pode ser pior do que ouvir seu bebê de três meses berrar até perder o ar e não saber o que fazer para ajudá-lo. Onde dói? O que dói? Como faço pra parar, pra resolver?! Me levem no lugar dele! Façam essa maldade comigo, mas não com o meu bebê de três meses! Tudo, qualquer coisa, menos isso!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O seu bebê de três meses é você, mas fora. É uma parte de você. Sua melhor parte, misturada com a melhor parte de quem te ajudou a fazer o bebê. É você apartado de si mesmo. O seu bebê de três meses te faz reviver teus primeiros três meses. Te faz redescobrir, renascer. É você renascido. Mas apartado, autônomo. Este renascimento lhe trouxe uma parte sua que você não controla, não sabe ao certo. Uma parte com vida própria. É preciso aprender essa relação inédita e única. Por mais que você se veja no seu bebê de três meses, ele sobreviverá a você.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha filha tem agora três meses desde que foi parida. E já é capaz de fazer tudo isso comigo. Fico imaginando quando ela tiver um ano, dois, dez, vinte, trinta, a minha idade... Começo a entender um pouco o que antes eu supunha que já compreendia quando meus pais me diziam: “Quando você tiver filhos, vai entender!”.</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Caio Dezorzi</i></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<i>2013, por volta do solstício de verão do hemisfério sul</i></div>
</div>
Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-86087577122621098472013-12-26T12:28:00.002-02:002013-12-28T14:34:56.094-02:00Boletim de Ocorrência<div style="text-align: justify;">
- Pode relatar o ocorrido?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Claro! Eu estava bem quando ele passou. Passou por mim. Através de mim. Enquanto ele passava eu pude entender melhor tudo à minha volta. Mas foi muito doloroso. Ele levou minha juventude, minha saúde, minha energia. Ele levou meus amores, meus sonhos, minhas oportunidades! E então levou minha mãe! Ela que sempre disse que ele era bom, que ele tinha ajudado a resolver os problemas mais graves da família, e ele nem se importou! Eu tentei impedi-lo. Fiz de tudo! Gritei até quase perder a voz! Tentei entrar na sua frente, mas eu já disse: Ele passou por mim; Passou através de mim! E levou tudo o que eu tinha. Eu tentei impedi-lo. Fiz de tudo! Tudo o que encontrei joguei no seu caminho! Fiz barricadas! Mas ele passou por tudo, através de tudo e levou tudo o que eu tinha! Nada o detém! Eu tentei agarrá-lo, prendê-lo... finquei estacas nos seus rastros no intento de ao menos retardá-lo, mas ele passou indiferente. E agora levou meus filhos! Eu implorei para ele voltar, mas ele não volta!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Por favor, acalme-se e seja mais objetivo... Quem é ele?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<a name='more'></a><div style="text-align: justify;">
- Ele? Passou... ninguém pode impedi-lo e nada o fará voltar. E vim até aqui porque sei que ele levará a todos! Todos nós! Não que vocês possam fazer algo, mas eu queria deixar registrado de uma maneira assim, oficial, para quem sabe alguém um dia ler e compreender o que aconteceu conosco. Não temos salvação! Estamos todos perdidos! Ele é poderoso demais para nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Mas senhor, me dê um nome!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- O senhor não sabe? Não percebeu? Ele também passou por você... posso ver. Passou através de você. E vem levando tudo o que o senhor tem, aos poucos. Não percebe? Não está sentindo agora mesmo?!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Do que está falando, senhor?! Diga quem ele é de uma vez!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- ...Vou me calar para que o senhor o perceba passando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Caio Dezorzi</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Dezembro de 2013</i></div>
Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-47565376864267973862013-09-28T01:47:00.001-03:002013-09-28T12:04:01.314-03:00Recém-renascidoHabituei-me a renascer.<br />
Vira e mexe renasço.<br />
Nos últimos anos renasci tanto,<br />
tanto que me estranha meu eu anterior.<br />
<br />
Renasci para as baratas quando perdi o medo delas.<br />
Renasci para as nuvens furando-as num salto de para-quedas.<br />
Renasci para a vida quando a morte levou gente querida.<br />
Renasci para a luta organizada a cada cassetada, a cada novo camarada.<br />
Renasci para o sexo a cada trepada, chupada, a cada carícia roubada.<br />
<br />
<a name='more'></a>Para alguns amigos renasci, para outros morri.<br />
Renasci para o amor a cada vez que sofri uma dor,<br />
a cada beijo e o coração em disparada.<br />
Renasci para o aqui a cada viagem trilhada.<br />
E ainda há tanto a renascer, tanta estrada!<br />
<br />
Sempre renascido em mim mesmo, tornei-me outros.<br />
Já desta última vez, renasci em outrem.<br />
Na bebê nascida do ventre de minha amada.<br />
E nela terei que aprender tudo o que pensava que sabia.<br />
Minha filha recém-nascida me fez recém-renascido.<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>2013, logo após o Equinócio de Primavera.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-4302318312736498322012-10-12T01:15:00.001-03:002012-10-12T01:15:12.413-03:00DespedidaDespedida<br />
Na ida se despe<br />
Volta cuspida<br />
<br />
Dispara doida<br />
Se despe doída<br />
Na volta e na ida<br />
<br />
<a name='more'></a>Despedida<br />
Pede ida<br />
Pé de volta<br />
<br />
Um pé lá outro cá<br />
Perdida<br />
Pede que dá<br />
<br />
Despedida<br />
Pé de partida<br />
Não tem mais volta<br />
<br />
Se perde na vida<br />
Volta despida<br />
Sem par nem escolta<br />
<br />
Despedida<br />
Da vida comprida,<br />
cumprida e sem volta<br />
<br />
Da vida perdida<br />
Da morte pedida<br />
Da mão que não solta<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>12 de Outubro de 2012</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-61748536413410806292012-08-01T10:15:00.000-03:002012-08-01T10:16:18.512-03:00O maior vacilo no menor slam do mundoVeio o "V"<br />
Vai vendo...<br />
Vi vinte vácuos<br />
Vasculhei as vísceras<br />
Vomitei vacilos várias vezes<br />
Vislumbrei véus e vórtices<br />
Vetei a voz<br />
Voltei varrido<br />
Vencido<br />
Velado<br />
Vermelho<br />
Vulto<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Julho de 2012</i><br />
<i>Quem esteve na Casa das Rosas em São Paulo, na edição de Julho do "Menor Slam do Mundo" e me viu desafiando o campeinho, sorteando a letra "V" e ficando mais de 10 segundos calado diante de todos, vai entender...</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-13867708905480275862012-05-29T11:15:00.001-03:002012-05-29T11:15:21.766-03:00TietêNo rio que sujas<br />
Águas lindas<br />
Morrem turvas<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Maio de 2012</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-22746410799198675152012-05-29T11:11:00.001-03:002012-05-29T11:11:20.203-03:00Processo (r)EvolucionárioRevolta...<br />
Evolução...<br />
Volta revolução.<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Maio de 2012</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-43647376608111093072012-04-16T10:50:00.002-03:002012-04-16T10:50:44.557-03:00Minha receita cotidianaTodas as manhãs levanto antes do sol<br />
faminto de sono<br />
<br />
Misturo passos e pequenos saltos<br />
mexo até dar liga<br />
<br />
Bato tudo com um pouco de ônibus<br />
e pitadas de metrô<br />
<br />
Cozinho meu caminho até o serviço<br />
em fogo baixo<br />
<br />
<a name='more'></a>Devoro meu trabalho apressado<br />
numa única bocada<br />
<br />
Transpiro produtividade<br />
torço a camisa na boca do patrão<br />
<br />
Mastigo ordens e desaforos<br />
masco até perder o gosto<br />
<br />
Sangro a meta exigida<br />
coagulo uma esperança de aumento de salário<br />
<br />
Bebo o caminho de volta pra casa<br />
junto com um anti-ácido<br />
<br />
Urino um banho relaxante<br />
esfrego até gozar<br />
<br />
Defeco minha noite de sono<br />
arroto um pesadelo<br />
...ou um sonho<br />
<br />
E desperto com a fome dos dias comidos.<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Abril de 2012, livremente inspirado no hai-kai "<a href="http://filacantos.blogspot.com.br/2012/04/aroma.html" target="_blank">Aroma</a>" de Luci Savassa, no <a href="http://filacantos.blogspot.com.br/" target="_blank">jogo autoral Filacantos</a>.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-21498758334091033562012-04-15T12:29:00.005-03:002012-04-15T12:29:40.276-03:00De onde nascem as ideias?De onde nascem as ideias?<br />
De qual barriga em gestação?<br />
Seriam frutos de uma árvore?<br />
Ou ovo pós-concepção?<br />
<br />
Uma ideia na cabeça<br />
E outra no coração<br />
Uma que desobedeça<br />
E outra que diga não<br />
<br />
<a name='more'></a>De uma ideia abstrata<br />
Desenvolvo uma ação<br />
Ou é do acontecido<br />
que concebo a razão?<br />
<br />
Uma ideia na cabeça<br />
E também no coração<br />
Se torna irresistível<br />
Ninguém segura não<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Abril de 2012, livremente inspirado no poema "<a href="http://filacantos.blogspot.com.br/2012/03/da-metafisica-e-outras-medidas.html" target="_blank">Da metafísica e outras medidas</a>" de Bruno Monteiro, no <a href="http://filacantos.blogspot.com.br/" target="_blank">jogo autoral Filacantos</a>.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-56397520689169686772012-04-11T16:27:00.001-03:002012-04-11T16:27:10.597-03:00Meu amor é naveganteMeu amor é baleia-azul<br />
Gigante em extinção<br />
Quase duzentas toneladas<br />
De dor e afeição<br />
<br />
De tanto sofrimento<br />
Meu amor é uma jubarte<br />
Seu canto sempre inédito<br />
é ouvido em qualquer parte<br />
<br />
<a name='more'></a>Tão grande e submerso<br />
Meu amor é um golfinho<br />
Salta aos quatro ventos<br />
Se mostrando pequenino<br />
<br />
Quando não correspondido<br />
Meu amor é tubarão<br />
Vai à caça, sai armado<br />
De poesia e canção<br />
<br />
Pelos mares deste mundo<br />
Meu amor é navegante<br />
Migra, nada, salta, afunda<br />
Te buscando, minha amante<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Abril de 2012, livremente inspirado nos poemas "<a href="http://filacantos.blogspot.com.br/2012/03/meu-amor-e-passarinho.html" target="_blank">Meu amor é passarinho</a>" de Andressa Ferrarezi e "<a href="http://filacantos.blogspot.com.br/2012/03/meu-amor-e-passarinho.html" target="_blank">Meu amor é uma toupeira</a>" de Daniela Giampietro, no <a href="http://filacantos.blogspot.com.br/" target="_blank">jogo autoral Filacantos</a>.</i><br />
<div>
<br /></div>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-18846913904967792082012-04-06T13:51:00.002-03:002012-04-23T19:05:56.265-03:00O chamavam de GorilaSe queria comer, pegava<br />
Se não queria, dormia<br />
De todo modo não falava<br />
Se escutava, não entendia<br />
<br />
Ali parado só olhava<br />
Se pensava, não sabia<br />
Se queria comer, pegava<br />
Se não queria, dormia<br />
<br />
<a name='more'></a>Do saber-se nas palavras<br />
Nunca experimentaria<br />
Cansado, sentava<br />
Sentado, jazia<br />
<br />
Se faltava, irritava<br />
Quê fazer, não sabia<br />
Nunca trabalhava<br />
Nunca saberia<br />
<br />
Do trabalho à palavra<br />
Ele evoluiria<br />
Mas se nunca trabalhava<br />
Do outro dependia<br />
<br />
Aqueles das palavras<br />
Lhe tiravam luz do dia<br />
Mas um outro das palavras<br />
Lhe ensinava poesia<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Abril de 2012, livremente inspirado na colagem "<a href="http://filacantos.blogspot.com.br/2012/04/blog-post.html" target="_blank">Virunga</a>" de Mauricio Adinolfi para o <a href="http://filacantos.blogspot.com.br/" target="_blank">jogo autoral Filacantos</a>.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-3286726236296095352012-03-15T00:26:00.001-03:002012-04-23T19:07:37.782-03:00Os olhos também falam<div style="text-align: justify;">
Naquele dia conversamos pessoalmente pela primeira vez, só que sem palavras. Foi uma conversa de olhares.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Caminhando apressado, sempre atrasado, nada me prendia. Toda concentração em acelerar cada passo na esperança de fazer o relógio retroceder. Ninguém me deteria. Até que por entre os anônimos transeuntes que caminhavam no contra-fluxo, avistei você. Olhos nos olhos, mesmo que ainda distantes. Me senti fora do tempo. Não que este tivesse parado, mas era como se não me afetasse mais. Cada passo meu agora parecia me transportar a um novo lugar, de onde podia melhor te ver, me vendo. Nem lembrava mais do vital motivo de minha pressa. Nada podia me libertar do seu olhar. Não sei ao certo, mas creio que foram uns quinze passos de olhos nos olhos até nos cruzarmos. Quinze passos que pareciam quinhentos, porque fora do tempo perdemos a noção de espaço. Mas mesmo tudo parecendo se mover em câmera lenta, e mesmo com um enorme desejo curioso de passear meus olhos por todo o seu corpo, não fui capaz de desviar meus olhos dos seus, por nem um instante sequer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<a name='more'></a><div style="text-align: justify;">
Ao nos cruzarmos te perdi de vista e fui soterrado por uma avalanche de questões num piscar de olhos: Quem era você? Por que me despertava tanto interesse? Que tipo de hipnose tinha sido essa? Será que morrerei sem saber? Por que não parei e perguntei seu nome? De onde te conhecia? Te conhecia? Te veria de novo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os pés seguiam um após o outro a produzir os passos como numa linha de montagem. Estavam no piloto automático por conta do motivo de minha pressa do qual não podia mais me lembrar. Antes que pudesse me distanciar demais, olhei pra trás, esperando ver seu verso a distanciar-se. E, embora se distanciasse de fato, me olhava também! Pescoço torcido pra trás como o meu! Foi como uma despedida que nossos olhos haviam planejado em segredo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Naquele dia conversamos pessoalmente pela primeira vez, só que sem palavras. Foi uma conversa de olhares. Os olhos também falam.<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Março de 2012</i></div>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-42004269137681779732012-02-18T15:34:00.005-02:002012-02-18T15:35:43.937-02:00O palíndromo do Nosso AmorANIMAL-LÂMINA<br />
<br />
É nosso amor romã-osso, né?<br />
<br />
Lâmina ama<br />
ama animal<br />
<br />
Ama animal! Ama!<br />
Ama animal-lâmina, ama!<br />
<br />
É nosso amor<br />
romã-osso, né?<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Fevereiro de 2012, inspirado no conto de Daniela Giampietro "Nosso Amor", publicado no <a href="http://filacantos.blogspot.com/" target="_blank"><b>jogo autoral "Filacantos"</b></a>.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-34777761726797550372012-01-25T01:19:00.000-02:002012-01-25T01:37:40.449-02:00Caem corpos em PinheirinhoCaem corpos em Pinheirinho!<br />
Viva Naji Nahas!<br />
Caem casas em Pinheirinho!<br />
Viva Naji Nahas!<br />
<br />
Cabo Oliveira<br />
Veste o uniforme antes do sol raiar<br />
Não é terça-feira<br />
E nem é dia de alguém trabalhar<br />
Mas recebeu ordens<br />
<br />
Leva balas de borracha<br />
Que destino elas terão?<br />
Leva bombas, gás pimenta<br />
Pra que tanta munição?<br />
<br />
Ana dos Santos<br />
Tenta dormir apesar da pressão<br />
Ela é só espanto<br />
Quando às seis horas ouve uma explosão<br />
Acode as crianças<br />
<br />
Moradores despejados<br />
Que destino eles terão?<br />
Lá vem a tropa de choque<br />
Pra que tanta munição?<br />
<br />
<a name='more'></a>Jennifer Souza<br />
Sonha em poder ser uma bailarina<br />
Mas ela não ousa<br />
Pela manhã bailará na chacina<br />
Sem saber porquê<br />
<br />
É arrancada de seus pais<br />
Que destino eles terão?<br />
Ela só tem sete anos<br />
Pra que tanta munição?<br />
<br />
Governador<br />
Se olha no espelho sem se assustar<br />
Já se acostumou<br />
Pensa que o povo sempre aceitará<br />
E manda invadir<br />
<br />
Levem balas de borracha<br />
Blindados e um canhão!<br />
Levem bombas, gás pimenta<br />
Levem toda a munição!<br />
<br />
Caem corpos em Pinheirinho!<br />
Viva Naji Nahas!<br />
Caem casas em Pinheirinho!<br />
Viva Naji Nahas!<br />
<br />
Sargento Santos<br />
Veste o uniforme antes do sol raiar<br />
E nem é dia de alguém trabalhar<br />
Mas recebeu ordens<br />
<br />
Maria Souza<br />
Tenta dormir apesar da pressão<br />
Quando às seis horas ouve uma explosão<br />
Acode as crianças<br />
<br />
Kelly Oliveira<br />
Sonha em poder ser uma bailarina<br />
Pela manhã bailará na chacina<br />
Sem saber porquê<br />
<br />
E a Juíza<br />
Se olha no espelho sem se assustar<br />
Pensa que o povo sempre aceitará<br />
E manda invadir<br />
<br />
Caem corpos em Pinheirinho!<br />
Viva Naji Nahas!<br />
Caem casas em Pinheirinho!<br />
Viva Naji Nahas!<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Janeiro de 2012, dois dias após a ação hedionda da Polícia Militar de SP na ocupação do Pinheirinho em São José dos Campos. Para quem não sabe do que se trata, este <a href="http://www.youtube.com/watch?v=NBjjtc9BXXY" target="_blank">vídeo produzido pelo Coletivo de Comunicadores Populares</a> explica bem.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-36274263867490474712012-01-17T19:53:00.000-02:002012-01-19T11:33:40.726-02:00Antes de cruzar as avenidasAmor, por favor,<br />
olhe para todos os lados!<br />
Amor, por favor,<br />
tome bastante água e muito mais cuidado!<br />
Amor, por favor,<br />
antes de cruzar as avenidas<br />
lembra-te que é a minha vida<br />
que carregas no teu peito<br />
e a nossa vida no amanhã do teu ventre.<br />
<br />
<a name='more'></a>Volta viva, volta toda, inteira...<br />
Que descuido descabido!<br />
O que teriam feito os dias vindouros<br />
para merecer tua ausência?<br />
E as noites futuras?<br />
Por que privá-las da tua poesia?<br />
<br />
Toda vez que você parte<br />
fico eu partido.<br />
Toda vez que você volta<br />
renasço em teu abraço.<br />
Volta sempre e rápido,<br />
mas sempre atenta!<br />
<br />
E se for para esquecer,<br />
esqueça tudo!<br />
Até de mim esqueça!<br />
Só não esqueça de tomar cuidado!<br />
É a minha vida em teu peito...<br />
É a nossa vida no amanhã do teu ventre.<br />
Por favor, amor!<br />
Amor, por favor!<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>2011, num início de tarde de primavera, um dia depois de uma brusca freada ter separado a feliz realidade de uma trágica possibilidade.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5268705278747805372.post-41736804761305708532012-01-03T16:39:00.001-02:002012-01-18T19:33:48.204-02:00Nada sei de poesiaNada sei de poesia.<br />
Não sei ler nem escrever.<br />
Sou analfabeto poético.<br />
O que sei mesmo é prosear!<br />
<br />
Mas ocorre, certas vezes,<br />
quando vou parindo a prosa,<br />
de algumas palavras se enversarem.<br />
Se enversam sozinhas, sem mais nem menos!<br />
<br />
Quando me dou conta,<br />
da prosa que paria,<br />
eis que se rebela a poesia!<br />
Assim, totalmente à revelia!<br />
<br />
<a name='more'></a>Não tem a ver comigo...<br />
É filha ilegítima!<br />
Nada do que eu queria!<br />
E é feia, desajeitada, sem rima!<br />
<br />
Mas como é próprio dos pais,<br />
cedo ao seu primeiro abrir d’olhos!<br />
E a amo como se fosse minha...<br />
Minha filha poesia!<br />
<br />
E embriagado de amor materno<br />
Vejo em seus defeitos, qualidades!<br />
Da sua esquisitice me vem graciosidade!<br />
Da sua falta de jeito, paixão!<br />
<br />
Aí, em vez de desenversar as palavras<br />
e fazer disso tudo uma prosa mais bonita,<br />
deixo que se enversem livremente<br />
e me descubro poeta inconsciente.<br />
<br />
<i>Caio Dezorzi</i><br />
<i>Janeiro de 2012, 3º dia.</i>Caio Dezorzihttp://www.blogger.com/profile/15143792495611049950noreply@blogger.com